Procure a paz e siga-a
RB prol, sl 34,14

Queridos irmãos e irmãs

O Congresso dos Abades deste ano não teve um tema oficial, mas as questões de guerra e paz estiveram sempre presentes. Ouvimos testemunhos de comunidades afetadas em países devastados pela guerra, da Ucrânia, da Terra Santa e de Burkina Faso. Durante nosso encontro com o Papa Francisco, ele repetiu várias vezes que "a guerra é derrota". Em nossa peregrinação a Montecassino, a destruição gratuita deste lugar há 80 anos ressoou, assim como a carta apostólica de Paulo VI de 1964 sobre São Bento com o título "Pacis Nuntius" – o Mensageiro da Paz.

Quando tivemos uma audiência com o Papa Francisco, que conhece bem a vida religiosa, ele nos disse, beneditinos: "a paz é a sua missão". E acrescentou: "Mas comecem dentro dos mosteiros!"

Começando dentro dos mosteiros

O próximo Ano Santo é uma oportunidade para nos concentrarmos em nossa própria paz: vamos olhar para nossas casas como lugares onde a paz pode crescer. Queremos convidar nossas comunidades a enfrentar as tensões internas, confrontar conflitos e antigos bloqueios, e participar de rituais de perdão e reconciliação.

Uma das mensagens de São Bento é: reconciliação e convivência através das linhas divisórias. A tradição beneditina enfatiza a igualdade dos companheiros monásticos, respeitando sua diversidade. Esta é uma poderosa ferramenta de paz.

Irradiar para fora

Podemos transmitir esta diversidade na convivência como uma mensagem de paz durante o Ano Santo?

Nossa presença beneditina mundial e nossa preocupação com a paz podem se unir neste Ano Santo com uma "oração beneditina pela paz ao redor do globo". Esperamos que os mosteiros possam se revezar para que cada comunidade faça parte desta corrente de oração beneditina, por exemplo, através de intercessões semanais ou momentos de oração em um dia e hora indicados.

Durante o Congresso, representantes da Santa Sé nos convidaram a redescobrir nosso antigo papel como construtores de pontes ecumênicas, 100 anos depois que o Papa Pio XI primeiro nos deu esta tarefa. As parcerias entre mosteiros ortodoxos e nossas comunidades beneditinas podem se tornar uma ponte sobre o abismo que se abriu entre Oriente e Ocidente nos últimos tempos.

O silêncio, que é a atitude natural de um monge, pode ser um espaço para encontrar irmãos e irmãs de outras fés e religiões. Existem lugares – também digitais – onde o 'silêncio pela paz' é praticado por cristãos em um espírito de diálogo ecumênico e inter-religioso.

Outra marca registrada beneditina é a hospitalidade. Quando permitimos que outros compartilhem nossa oração, silêncio e ritmo diário, os ajudamos a encontrar a paz.

São Bento quer que seus discípulos "procurem a paz e a persigam". Este é um incentivo para 'sair de nossa própria zona de conforto'. Quando enfrentamos desafios ou embarcamos em novos projetos, iniciamos um caminho de transformação que pode nos levar à renovação espiritual.

Quando as guerras na Ucrânia e na Terra Santa começaram, muitos mosteiros beneditinos se abriram e acolheram refugiados. Somos muito gratos por esta solidariedade. A gratidão é uma pedra angular da construção da paz: gratidão a Deus e aos nossos irmãos e irmãs por cada dom recebido e dado. A gratidão profunda tem poder curativo e fortalece o processo de reconciliação e paz. Incentivamos nossas comunidades a estabelecer rituais para expressar gratidão no caminho para a paz.

Esperamos que esta humilde mensagem de paz seja recebida como um convite a todos os nossos irmãos e irmãs monásticos para se envolverem ativamente na construção da paz. Sejamos criativos e encontremos maneiras de construir a paz em nossas comunidades e para nosso mundo. E vamos compartilhar em toda nossa Confederação como fazemos isso: Queremos ser uma verdadeira família mundial construtora da paz.

Abade Primaz Jeremias Schröder OSB
e mais de 200 participantes do Congresso dos Abades 2024